O Lado Oculto de Hans Asperger: Autismo e Nazismo em Viena



Hans Asperger, pediatra austríaco famoso por estudar e caracterizar a síndrome de Asperger, trabalhou muitos anos na Viena nazista. Apesar de seu estudo sobre a síndrome, publicado em 1944, ter ganhado reconhecimento internacional apenas nos anos 1980, seus vínculos com o regime de Hitler e suas políticas de higiene racial foram pouco explorados. Por falta de evidências e com base nas declarações de Asperger, ele foi visto como opositor ao nacional-socialismo.

Recentemente, o historiador Herwig Czech, da Universidade de Viena, trouxe à tona informações preocupantes. Baseado em documentos históricos inexplorados, incluindo arquivos pessoais e avaliações clínicas de Asperger, Czech revelou que o pediatra apoiou o regime nazista e foi recompensado com oportunidades profissionais, tornando-se professor na universidade. Asperger participou de organizações nazistas, legitimou políticas de higiene racial e cooperou com o programa de eutanásia infantil, o que contradiz a ideia de que ele protegia as crianças. Sua benevolência não se estendia às crianças sem perspectivas de desenvolvimento ou que não se enquadravam nos padrões de educação e disciplina. Para Asperger, a clínica de eutanásia Spiegelgrund em Viena era "necessária".

O livro de Edith Sheffer, "Crianças de Asperger: As origens do autismo na Viena nazista", revela uma história inquietante por trás desse nome tão respeitado. Vamos mergulhar nessa narrativa surpreendente e descobrir as complexas e sombrias origens do diagnóstico do autismo.


Resenha

O Começo na Viena Nazista

Nos anos 1930 e 1940, Viena era um caldeirão de mudanças políticas e sociais, profundamente influenciadas pelo regime nazista. Hans Asperger, um jovem psiquiatra, começou a trabalhar na Clínica de Educação Curativa, onde desenvolveu o diagnóstico de "psicopatia autista". Este diagnóstico visava entender e categorizar crianças que apresentavam comportamentos diferentes do que era considerado "normal".

Psiquiatria e Ideologia Nazista

A psiquiatria infantil na época de Asperger não existia isoladamente. Estava profundamente entrelaçada com os ideais nazistas de pureza racial e utilidade social. Médicos como Asperger eram pressionados a classificar as crianças não apenas com base em suas necessidades médicas, mas também conforme sua "utilidade" para a sociedade nazista.

As Decisões de Vida e Morte

Na clínica, Asperger e seus colegas enfrentavam a difícil tarefa de decidir o destino das crianças sob seus cuidados. Aqueles considerados "incuráveis" ou "indesejáveis" muitas vezes eram enviados para programas de eutanásia, onde encontravam a morte. Essa prática refletia os valores desumanos do regime, que priorizava a "pureza" e a "eficiência" acima da vida humana.

As Distinções de Gênero

O livro de Sheffer também revela como meninos e meninas eram tratados de maneira diferente. As meninas, muitas vezes vistas como mais "domesticáveis", tinham uma chance ligeiramente maior de serem poupadas, enquanto os meninos eram mais frequentemente considerados irrecuperáveis e, portanto, descartáveis.

O Legado Conturbado de Asperger

Edith Sheffer apresenta um quadro perturbador do legado de Hans Asperger. Embora suas contribuições para a compreensão do autismo sejam inegáveis, seu envolvimento com o regime nazista e o impacto de suas decisões médicas sobre a vida das crianças sob seu cuidado lançam uma sombra sobre seu trabalho.

Reflexões Finais

Ao trazer à tona essa história, Sheffer nos faz repensar a figura de Hans Asperger e a evolução do diagnóstico de autismo. A narrativa serve como um lembrete poderoso de como os contextos políticos e sociais podem influenciar a ciência e a medicina, às vezes com consequências devastadoras.

"Crianças de Asperger: As origens do autismo na Viena nazista" é uma leitura essencial para quem deseja compreender não apenas a história do autismo, mas também como a medicina pode ser moldada por forças externas. Edith Sheffer nos oferece uma visão profunda e provocativa sobre um capítulo sombrio da história da psiquiatria infantil, desafiando-nos a refletir sobre o verdadeiro legado de Hans Asperger.

fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Asperger

SHEFFER, Edith . Crianças de Asperger [recurso eletrônico]: as origens do autismo na Viena nazista ; tradução Alessandra Borrunquer. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2019.


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