Resumo: Henri Gaillard foi um pioneiro na luta pelos direitos dos surdos e pela preservação da língua de sinais. Embora seu nome seja pouco conhecido hoje, seu impacto foi profundo. Sua defesa da igualdade de direitos e deveres e seu compromisso com a educação bilíngue continuam a ressoar como princípios fundamentais para a inclusão da comunidade surda em todas as esferas da sociedade.
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Henri Gaillard (1866-1939) é um nome pouco lembrado, mesmo dentro da comunidade surda. No entanto, sua contribuição à luta pelos direitos dos surdos na Belle Époque é inegável. Em uma época de intensos debates sobre a educação e integração dos surdos, Gaillard tornou-se um ativista central, defendendo o uso da língua de sinais em um contexto marcado pela imposição do método oralista.
O Congresso de Milão e o Método Oralista
O Congresso de Milão de 1880 foi um ponto de virada trágico para a comunidade surda. Nesse evento, educadores e especialistas discutiram a educação de crianças surdas, e a maioria decidiu em favor do método oral puro, que proibia o uso da língua de sinais nas escolas. A ideia por trás dessa decisão era que os surdos, ao aprenderem a falar e a ler lábios, poderiam se integrar melhor à sociedade ouvinte.
No entanto, essa abordagem foi amplamente criticada. Estudos conduzidos por cientistas, como Alfred Binet, mostraram que o método oral puro não favorecia o desenvolvimento intelectual das crianças surdas. Mesmo assim, a pedagogia oralista se espalhou pela França e outras partes da Europa, muitas vezes com grande prejuízo à comunidade surda, que via sua língua e cultura serem marginalizadas.
A Luta de Gaillard pela Igualdade
Henri Gaillard emergiu nesse cenário como uma voz forte em defesa da restauração da língua de sinais na educação dos surdos. A partir da década de 1880, ele se engajou ativamente em associações e na imprensa voltada à comunidade surda, publicando artigos em jornais como o Journal des Sourds-Muets e a Gazette des Sourds-Muets. Gaillard defendia que a verdadeira igualdade para os surdos passava pelo acesso à informação, e isso só seria possível através do bilinguismo – ou seja, o domínio tanto da língua de sinais quanto da língua escrita.
Gaillard seguia os passos de Ferdinand Berthier, outro grande ativista surdo, ao lutar não apenas pelos direitos dos surdos, mas também pelos deveres. Para ele, a comunidade surda precisava demonstrar que, apesar de sua deficiência, era plenamente capaz de cumprir seus deveres cívicos, como votar, pagar impostos e trabalhar. Ele criticava duramente surdos que recorriam à mendicância, acreditando que isso reforçava preconceitos sobre a incapacidade intelectual dos surdos.
Um Legado de Resistência e Intelectualidade
A importância de Henri Gaillard não se limitou à militância política. Ele também se destacou pela sua produção literária, que buscava manter viva a emulação intelectual entre os surdos, mesmo em um ambiente educacional adverso. Seu ativismo envolvia tanto surdos quanto ouvintes, numa tentativa de sensibilizar a sociedade em geral para as questões e desafios enfrentados pela comunidade surda.
Embora menos conhecido que seu antecessor, Ferdinand Berthier, Gaillard foi um dos mais prolíficos autores surdos da Belle Époque, deixando um legado de luta por igualdade e inclusão. Ele e sua esposa, Louise Walser, também militante surda, dedicaram suas vidas a essa causa, e suas contribuições continuam a inspirar novas gerações de surdos que ainda lutam por uma sociedade mais justa e acessível.
Se quisermos construir um futuro mais inclusivo, devemos reconhecer e celebrar o legado de ativistas como Gaillard, cujas ideias e ações foram essenciais para moldar o caminho da educação e dos direitos das pessoas surdas.
Fonte
https://fr.wikipedia.org/wiki/Henri_Gaillard
https://laviedesidees.fr/Henri-Gaillard-militant-de-l-egalite-pour-les-sourds
Publicação de Henri Gaillard em francês - Documento:
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k58128848
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