James Denison (1837-1910) |
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Quando falamos sobre o Congresso de Milão de 1880, um dos eventos mais marcantes na história da educação de surdos, geralmente pensamos em um momento em que a língua de sinais foi suprimida e o método oral foi imposto. No entanto, essa narrativa simplificada não faz jus à complexidade do que realmente aconteceu, nem ao papel fundamental que um dos poucos surdos presentes desempenhou: James Denison, que era cunhado de Edward Gallaudett.
James Denison foi um dos quatro surdos que participaram do Congresso de Milão, onde os principais educadores e especialistas em surdez do mundo se reuniram para discutir o futuro da educação para surdos. O evento ficou conhecido negativamente por decretar o fim do uso da língua de sinais em sala de aula, promovendo o método oralista como a única forma de comunicação válida. Mas a presença de Denison, e seu relato sobre o congresso, nos oferece uma perspectiva única e crítica desse marco histórico.
Denison e o Protagonismo Surdo
A importância de James Denison vai além de simplesmente ter estado presente no congresso. Ele foi uma voz ativa e consciente, capaz de oferecer uma visão crítica e profunda sobre o que estava sendo decidido naquele momento. Enquanto muitos ouvintes determinavam o futuro da educação de surdos, Denison se posicionava como um agente da sua própria história, evidenciando a necessidade de os próprios surdos estarem envolvidos nas decisões sobre suas vidas e sua educação.
Seu relato sobre o Congresso de Milão permite que ultrapassemos a simplificação de que o evento foi apenas uma luta entre oralização e língua de sinais. Denison, com sua experiência de vida e crítica afiada, mostrou que o verdadeiro debate era sobre autonomia, inclusão e o papel dos surdos na sociedade. Ao trazer essas reflexões, ele deu voz à comunidade surda em um momento em que suas opiniões estavam sendo silenciadas.
Por que Denison é Importante Hoje?
A tradução do texto de James Denison para o público brasileiro é um passo crucial para reavaliarmos como a história da educação de surdos foi contada. Por muito tempo, os surdos foram retratados como passivos, meros receptores das políticas criadas por ouvintes. Denison nos lembra que os surdos sempre estiveram presentes, lutando por seus direitos e reivindicando sua autonomia. Lembrando que ele estava presente também no congresso de Paris em 1900.
Estudar o trabalho e as reflexões de James Denison nos ajuda a problematizar muitas verdades que aceitamos sobre o Congresso de Milão e, mais amplamente, sobre a educação de surdos. Seu protagonismo, a coragem de se posicionar em um espaço onde os surdos tinham pouco poder, e sua capacidade de refletir criticamente sobre as decisões tomadas naquele congresso são inspirações para a luta contínua por uma educação inclusiva, bilíngue e que respeite a língua de sinais.
Em última análise, Denison nos ensina que a voz dos surdos é essencial para moldar o futuro da educação. Ele nos convida a olhar além das narrativas tradicionais e a incluir, sempre, os próprios surdos no centro das discussões que dizem respeito às suas vidas.
Fonte:
https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/1954
NASCIMENTO, G. S. X.; RODRIGUES, J. R.; VIEIRA-MACHADO, L. M. da C. Impressões sobre o Congresso de Milão. Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 10, n. 3, p. 310–319, 2021. DOI: 10.5281/zenodo.10062012. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/1954. Acesso em: 13 set. 2024.
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